Uma das principais vacinas contra a Covid-19 usadas atualmente é a desenvolvida pela universidade de Oxford em parceria com o laboratório AstraZeneca, duas instituições britânicas. No Brasil, a vacina é produzida pela Fundação Oswaldo Cruz, conhecida como Fiocruz. Uma das mais importantes instituições de pesquisa de ciência e tecnologia em saúde do mundo, a Fiocruz foi fundada em 1900 com o nome de Instituto Soroterápico Federal, e desde então ganha, a cada ano, cada vez mais relevância no cenário científico.
Nascido no interior de São Paulo, Oswaldo Cruz se mudou com a família para o Rio de Janeiro ainda criança, e desde jovem se interessou pro microbiologia. Esse interesse o fez montar um pequeno laboratório no porão de sua casa, onde fazia alguns experimentos. Pouco depois, já graduado e doutorado pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, passou a trabalhar na Policlínica Geral do Rio de Janeiro, responsável pela montagem e chefia do laboratório de análises clínicas. Anos mais tarde, em 1897, Oswaldo Cruz se mudou para Paris, onde estudou microbiologia, soroterapia e imunologia no Instituto Pasteur, e medicina legal no Instituto de Toxicologia.
De volta ao Brasil em 1900, ajudou a fundar o Instituto Soroterápico Federal, construído na Fazenda Manguinhos, no Rio de Janeiro. Na então capital federal, Oswaldo Cruz viu seu país ser assolado por vários tipos de doenças infecciosas, e colocou o instituto recém fundado a combater as pestes, como a febre amarela, a peste bubônica e a varíola. À época, os recursos adotados para enfrentar as epidemias foram semelhantes aos adotados atualmente contra a Covid-19: isolamento dos doentes, a notificação compulsória dos casos positivos, a captura dos vetores, como mosquitos e ratos, e a desinfecção das moradias em áreas endêmicas. Em poucos meses, a epidemia de peste bubônica diminuiu com o extermínio dos ratos, cujas pulgas eram vetores da doença.
Já o combate à febre amarela foi mais difícil. Assim como as notícias falsas transmitidas rapidamente pelas redes sociais atualmente, a sociedade brasileira de 1904 acreditava que a doença era transmitida pelas roupas, suor ou sangue. Cientista de renome internacional, Oswaldo Cruz acreditava que a febre amarela era transmitida por mosquitos, e criou brigadas sanitárias, percorrendo casas com o objetivo de eliminar focos dos insetos.
A operação para erradicação da doença gerou uma revolta popular, que aumentou quando Oswaldo Cruz tentou promover uma vacinação em massa da população contra a varíola. A ira popular ficou conhecida como a Revolta da Vacina, e a população se recusava a ser vacinada contra qualquer doença. Após muitos confrontos, a revolta foi superada, e a febre amarela foi erradicada no Rio de Janeiro em 1907. Um ano mais tarde, em 1908, um novo surto de varíola voltou a assolar a capital federal, e a população procurou os postos de vacinação para superar a doença.
Além do trabalho de prevenção de doenças, Oswaldo Cruz foi reconhecido mundo afora pelo trabalho de saneamento do Rio de Janeiro, pela reformulação do Código Sanitário Brasileiro, pela reestruturação de todos os órgãos de saúde e higiene do país e pelo combate à malária em 1910, durante a construção da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, em Rondônia. Seu trabalho pioneiro no Brasil fez com que Oswaldo Cruz fosse reconhecido como herói nacional, e em 1909 o Instituto Soroterápico Federal passou a se chamar Fundação Oswaldo Cruz.
Diagnosticado com nefrite, uma doença renal aguda, Oswaldo Cruz se licenciou da Diretoria Geral de Saúde Pública em 1909 para cuidar da saúde. Em 1915, também deixou a direção do Instituto Oswaldo Cruz e mudou-se para Petrópolis. Mesmo doente, fora eleito prefeito da cidade no ano seguinte, em 1916, traçando um grande plano de urbanização da cidade e fundando a Academia Brasileira de Ciências. Meses após tomar posse como prefeito, renunciou ao cargo. Oswaldo Cruz faleceu em fevereiro de 1917, aos 44 anos, deixando um legado permanente para a história da saúde pública do Rio de Janeiro e do Brasil.